quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Crítica ao programa no diário As Beiras. 18 Agosto 2007

João Miguel Lameiras, crítico de banda desenhada de invejável currículo, e um dos entrevistados do VERBD, escreve regularmente uma rubrica sobre e em torno da banda desenhada no diário As Beiras. Fez-nos ele a gentileza de nos enviar o seu texto, que aqui postamos (podendo ser consultado também, como de costume, na secção de "Recortes" da Bedeteca de Lisboa).
Prezamos muito a atenção e a inteligência dada ao programa através deste texto, com críticas pertinentes, a que responderemos atempadamente, aqui mesmo neste post, para um contínuo diálogo com os interessados e como forma de contributo a uma discussão ampla e criativa. Estão todos convidados a se juntarem à mesma.
"VER BD… NA TV
Com excepção de alguma notícia ocasional por ocasião do último filme de Hollywood baseado numa personagem de BD e de efemérides como os cem anos do nascimento de Hergé, a presença da Banda Desenhada nos ecrãs das televisões nacionais é quase nula. Até por isso, o programa “Ver BD”, actualmente em exibição aos domingos às 13 H na RTP 2, com repetição no mesmo dia à 1 H da madrugada, é um acontecimento incontornável que este espaço não podia deixar de assinalar.
Com três dos cinco programas que compõem esta série já exibidos, já é possível fazer um balanço muito positivo deste projecto, que procura dar a descobrir ao público interessado um panorama da Banda Desenhada nacional, com destaque para uma vertente mais autoral, partindo do trabalho de onze autores contemporâneos.
Os onze “magníficos” são, por ordem alfabética: Filipe Abranches; Isabel Carvalho; Diniz Conefrey; José Carlos Fernandes; António Jorge Gonçalves; Luís Henriques; André Lemos; Susa Monteiro; Pedro Nora; Miguel Rocha e David Soares. Uma listagem tão eclética como discutível (como o são inevitavelmente este tipo de listagens…) em que, a par de nomes perfeitamente incontornáveis, face à quantidade e qualidade do seu trabalho, como Miguel Rocha, José Carlos Fernandes, Filipe Abranches, David Soares, ou Diniz Coneferey, surgem outra escolhas bastante mais controversas, como Susa Monteiro, cuja qualidade gráfica é inegável, mas que ainda está muito longe de ter produzido o suficiente para se poder considerar a sua obra como representativa do que quer que seja…
Os dois primeiros programas, transmitidos a 29 de Julho e a 5 de Agosto, respectivamente, traçaram uma breve história da BD portuguesa, do trabalho pioneiro Rafael Bordalo Pinheiro à revista “Tintin”, no primeiro programa, e da revista “Tintin” até à actualidade no segundo, em que é dado destaque às experiências efémeras das revistas “Visão” e “LX Comics”. Contando com depoimentos de especialistas, críticos e autores como fio condutor, este percurso de pouco menos de uma hora pela BD feita em Portugal, estava muito bem feito, pecando por vezes por um excesso de informação, sobretudo quando ao depoimento do especialista se associavam no ecrã imagens do trabalho dos autores de que ele estava a falar, a um texto complementar a correr em rodapé, tornando difícil, para um telespectador que não esteja bem dentro do assunto, assimilar tanta informação simultânea.
Quanto à panorâmica traçada pelos autores do programa, apenas encontrei uma lacuna importante, que é a quase nula referência à importância dos jornais como campo de evolução dos autores portugueses, findo o período áureo das revistas. E se alguns dos onze autores, como José Carlos Fernandes (com a “Agência de Viagens Leming” no Diário de Notícias”) e Diniz Conefrey (que no “Expresso” e no “Blitz”, construiu algumas das mais interessantes experiências gráficas da sua carreira) passaram episodicamente pelos jornais, outros nomes igualmente importantes, mas que estão (quanto a mim, injustamente) ausentes da selecção feita por Pedro Moura, produziram os seus trabalhos mais importantes directamente para as páginas dos jornais. Foi o caso de Fernando Relvas no semanário “Sete”; de Nuno Saraiva, primeiro no “Independente” (com a “Filosofia de Ponta”, a meias com o Júlio Pinto) e mais tarde no “Expresso” e no “Sol”, e da dupla Rui Ricardo Esgar Acelerado no “Blitz” com a série “Superfuzz”.
O terceiro episódio, exibido a 12 de Agosto, foi exclusivamente dedicado aos métodos, técnicas e processos de trabalho dos onze autores, mostrando as diferentes formas de abordagem seguidas por cada um. Uma interessante viagem aos bastidores do processo de criação de cada autor, que privilegia a parte gráfica e estética, colocando em segundo plano o papel do argumentista que, com a excepção de David Soares (que é, acima de tudo, um escritor que também desenha) tem brilhado pela ausência neste “Ver BD”.
Mas, se exceptuarmos estas pequenas reticências, que poderão até vir a ser rebatidas pelos dois programas que ainda falta emitir, este “Ver BD” é uma aposta claramente ganha e um marco em termos da história da Banda Desenhada em Portugal. Um programa inteligente, com grande rigor de pesquisa e algum arrojo estético e narrativo (como a opção de dessincronizar o texto e a imagem nas entrevistas) que esperamos venha um dia a ser recolhido em DVD.
(“Ver BD”, um programa de Pedro Moura, com realização de Paulo Seabra, uma produção Black Maria para a Rtp 2, 5 episódios de 24 minutos, aos domingos, às 13h na RTP 2. Mais informações em http://programaverbd.blogspot.com/)"
João Miguel Lameiras
(brevemente: "respostas")

Um comentário:

espadaneira disse...

De facto, este é um dos melhores programas que já se realizaram sobre o tema. Tenho pena que o mundo da Banda Desenhada ainda esteja apenas circuscrita às grandes cidades. Vivendo eu na provincia, é muito raro encontrar obras nacionais (e estrangeiras) nas nossas livrarias. Para além dos habituais Asterix, Luky Luck, tintin e alguns Manara, Bilal e Hugo Pratt, é-me bastante difícil actualizar a minha biblioteca. Resta-me aproveitar as poucas viagens que faço a Lisboa e Porto para procurar outros nomes. Obrigado pelo programa, talvez nos encontremos num sarau qualquer. bem haja!